26 de noviembre de 2008

MÊS DE VISITA AOS CIRCOS DE PERIFERIA DE RECIFE




Outubro...

Com a parceria da Prefeitura de Recife a través da Direção de Circos, a Caravana conseguiu assinar um convenio para visitar e realizar trocas com seis circos mambembes (itinerantes) que circulam na periferia de Recife. Durante o mês de outubro, nos visitamos o Circo Tropical, o Circo transamérica, o Grande Circo Londres, o Circo Bambolé e o Circo Mágico de Alakazam.

Em cada um deles ns passamos três o quatro dias, em alguns deles morando com nosso ônibus Wipala nos circos mesmos, junto aos velhos trailers do pessoal, tendo por primeira vez a oportunidade de experimentar o que é a vida dos circos pobres da periferia, em bairros carentes de todo, com estruturas e espetáculos decadentes, com platéias mal educadas, tentando levar um pouco do que são nossos valores, convivendo com famílias e tribos que tem dois ou três gerações de serem circenses, nômades como nos da Caravana.

Foi uma experiência muito importante, um espelho muito real para nos olhar, e esperamos, ter conseguido que algumas sementes fossem plantadas em alguns dos personagens que conhecemos nesse mês, que abriam as portas de seus universos íntimos, seus corações e suas historias para nos.

Aqui um texto que foi publicado na Agenda Cultural de Recife sobre esta aventura da Caravana:




Re-descobrindo o universo circense em Recife com a Caravana Arcoiris

Em parceria com a Gerencia de Serviço de Circos da Prefeitura de Recife, a Caravana Arcoiris por la Paz, organização cultural e internacional itinerante que saiu do México desde o ano 1996, que tem percorrido 16 paises de América Latina, e o Brasil desde o mês de agosto do 2005, esta realizando uma troca de saberes e experiências com diferentes Circos mambembes da periferia da cidade desde o inicio do mês de outubro.

A idéia surgiu a partir de um encontro do Diretor da Fundação de Cultura Fernando Duarte com o idealizador da Caravana, o mexicano Alberto Ruz, aproveitando o passo da trupe mambembe pelo estado, com o propósito de fortalecer os pequenos Circos da capital, e de conhecer melhor a realidade desse universo, que para muitas pessoas interessadas em preservá-lo, se encontra em franco “perigo de extinção.”

No mês de outubro, o grupo internacional, composto de artistas provenientes de Equador, Chile, Brasil e México começaram sua tournée com a visita ao Circo Tropical, localizado na Lagoa de Olho de Água, num bairro do município de Piedade, onde eles ficaram quatro dias, instalados num dos seus antigos ônibus coloridos na praça do circo, compartilhando a vida diária e os espetáculos noturnos com as quatro famílias que compõem o pessoal dessa entidade e com as crianças e os jovens da comunidade.

O dono, Cavaquinho, abriu as portas do seu “lar”, do seu trailer familiar, e da sua programação, iniciando-se uma convivência que incluiu a partilha de refeições, de treinamentos, de oficinas, de brincadeiras e atividades lúdicas, de saídas, tanto ao Ceasa,-para uma amanha de troca de artes circenses por alimentos,- como as praias vizinhas, para sair com as famílias e as crianças umas horas fora de um acampamento sem água corrente, sem serviços sanitários, no meio de esgotos, nuvens de pó e montes de lixo.

Nas palavras de Giancarlo, um dos artistas do Circo Tropical, “os dias passados com a Caravana foram raros momentos de harmonia e de paz, sem brigas e sem discussões, nem dentro nem fora”, e tanto ele como os demais insistiam que voltássemos quando quiséramos especialmente para as festas natalícias: “Que as coisas melhoram economicamente e poderemos lês receber com mais abundancia...”

A seguinte praça a serem visitada foi o Circo Mágico de Alakazam, no bairro de San Martin. A diferença da lona do Tropical, em péssimas condições, a lona do Alakazam e mais nova, tem um palco no picadeiro, com uma melhor equipe de luzes e som, mais com um pessoal muito reduzido, a três artistas-fazem de tudo e que moram nos enferrujados trailers da companhia.

Personagem carismático e com um historiai de mais de 50 anos no Circo, 35 como dono, Alakazam tive um dos maiores espetáculos e infra-estrutura circense do nordeste, mais uma serie de tragédias e desastres levara-lo a situação precária de sobrevivência na qual se encontra hoje em dia. Numa situação que impossibilitou a permanência da Caravana na praça, foi decidido de realizar visitas por quatro tardes e noites ao Circo, para fazer longas entrevistas a Alakazam, compartilhar técnicas circenses com seus jovens, participar nos shows e oferecer alternativas a programação, especialmente no referente às danças, já que na maior parte dos espetáculos dos circos de periferia, as dançarinas só fazem brega com conotações puramente sexuais. A festa do dia da criança, no 12 de outubro, foi o melhor momento dessa troca, com uma platéia muito empolgada e com mais de 350 pessoas lotando as arquibancadas do Circo.

A terceira visita foi no bairro de Muribeca, em Jaboatão dos Guararapes, na casa da histórica Índia Morena, Patrimônio cultural de Pernambuco, e seu marido Maviel, presidente da Associação de Artistas circenses do estado. Donos do Circo Gran Londres, atualmente fora das praças, esperando o momento de renovar sua lona para reabrir as portas de ingresso a seu universo, Índia e Maviel são dois das figuras mais importantes do circo em Pernambuco.

Ela com sua presencia carismática, seu olhar brilhante e sua fala decidida, seus múltiplos talentos, sua inteligência e os longos anos no mundo do circo em Brasil e outros paises de América do Sul. Ele, como pilar dessa organização pioneira que procura defender os direitos dos mais de 2.000 artistas cadastrados e dos 50 pequenos circos do estado de Pernambuco.

As varias visitas à dupla, nos permitiram ter uma ampla visão da situação dos circos, das dificuldades que passam os artistas para sobreviver, dos efeitos da violência e da insegurança social na baixa de assistência do publico aos espetáculos e do aumento de incidência das drogas e do álcool e da prostituição e exploração infanto-juvenil nos bairros mais marginais da cidade, e entre o mesmo pessoal dos circos da periferia.

No resto do mês de outubro, foram visitados também o Circo Barcelona, de dona Severina, em Itaquitinga, o Circo Transamérica do Sr. Gerson em Camaragipe, e o Circo Bambolé, do Sr. Sandro em Paudalho. Todos estes circos e a Caravana Arcoiris participaram nos quatro pólos da 3ª Mostra de Circo de Recife que este ano homenagearam ao palhaço Gameloso.

O relatório destas experiências e um acervo de milhares de fotografias e vídeo ficam como testemunha deste intercambio enriquecedor que esperemos de como resultado um maior apoio ao mundo circense, no só no estado de Pernambuco, mais no Brasil todo. Consideramos que essas manifestações de cultura popular, que levam alegria, magia e destreza aos cantos mais afastados e necessitados da cidade e do interior, precisão se renovar, se fortalecer, levantar sua auto-estima e serem valorizadas como a dança, o teatro, a musica e demais artes. Os esforços da Prefeitura, a traves do entusiasmo e de paixão de Gilberto Trindade da Gerencia de Serviços de Circo são um primeiro passo muito importante nessa direção. Parabéns!

Alberto Ruz Buenfil
Caravana Arcoiris por la Paz

III Mostra de Circo de Recife (29 outubro ao 2 de novembro)







Como parte do convenio com a Prefeitura, a Caravana foi convidada a participar na III Mostra de Circo, e a alugar nossa lona para ser instalada na praça 13 de maio, no centro histórico da cidade, o principal pólo de quatro nos quais mais de 22 turmas circenses do estado de Pernambuco e de outros estados vizinhos, realizaram suas apresentações todas as noites por quatro dias.

A lona arcoiris da Caravana nunca antes estive tão bonita, com seu picadeiro profissional, seus trapézios, sua cortina circense, as arquibancadas e a marquesinha, e suas bandeiras arcoiris flutuando baixo os lindos céus recifeños. Cada noite, a lona estava completamente lotada, sem mais espaço para se sentar, centeias de pessoas paradas desfrutando dos melhores números de cada circo convidado.

Nesses dias tivemos a oportunidade de conhecer outros circos, de nos encontrar com nossos amigos e parceiros dos circos visitados, e de nos apresentar com uma peça de teatro-circo que desenhamos especialmente para essa ocasião: “As meninas do circo.”Foi nossa maneira de devolver aos circos tradicionais um poço do apreendido com eles no mês de outubro, fruto da convivência intima com as tribos circenses que nos acolheram com tanto calor e generosidade.

A peça descreve a vida de muitas “meninas de circo”, que fugiram de suas casas para fazer parte de um Circo, e que voltaram artistas famosas com o passo dos anos, figuras muito especiais, guerreiras e donas de circo de uma força e vitalidade assombrosa. Donas como Índia Morena, Diana, Cida, que agora são mulheres formando novas gerações de artistas, começando com seus filhos e netos, para tentar preservar essa arte, tão esquecida e marginada que a arte circense.

Sofia e Karol, nossas “meninas do circo” foram as estrelas do espetáculo, e ganharam a aprovação e os aplausos de uma numerosa e entusiasta platéia que lotava completamente nossa lona o dia 1 de Novembro, dia da celebração dos mortos na maior parte dos paises das Américas.

O nosso espetacular numero de fogo, com os quatro caravaneiros: Bruno cuspindo fogo, Simon com o bastão de fogo e Karol e Sofia com swings de fogo, todos vestidos com figurinos feitos por Verônica ate as altas horas da noite, fechou lindamente nosso show, e com isso conseguimos passar nosso batismo de circo na capital pernambucana. O Coyote como apresentador e Rafael no som e luzes completaram nossa equipe de essa experiência que ninguém de nos vá facilmente esquecer.