22 de enero de 2009

PRIMEIRO COMUNICADO DESDE A ALDEIA DE PAZ EM AMAZONIA


Por Coyote Alberto Ruz
Belem, Para
Amazônia, Brasil

Uma vez mais, uma missão que parecia quase impossível para a Caravana Arcoiris por la Paz, logro serem realizada: Conseguimos sair de Recife, depois de 11 meses estacionados na base Bicho do Mato, uma vez que nossos veículos foram precariamente concertados, pneus de segunda rodada comprados, os vistos e permissões para ficar legais temporalmente no pais proporcionadas, graças ao apoio in-valuavel das nossas irmãs da Fundação Terra Mirim, e de reunir uma quantidade apenas suficiente de dinheiro para a viagem, graças às doações feitas pelos nossos amigos, irmãos e companheiros incondicionais dos quatro cantos da Pachamama.

O percurso de Recife a Belem, de 2100 kms, foi realizado, a ritmo caravaneiro, em oito dias, com uma soa parada em Teresina de dois noites. Tivemos vários problemas mecânicos, praticamente com todos os veículos, mais afortunadamente nenhum de gravidade, e os piores, justo nos sítios onde paramos e podíamos resolvê-los: pneus furados, uma mola quebrada, quedas elétricas, concerto de motor de arranque e muda de bateria, uma roda rota dum trailer, perda de pressão e mistura de óleo e diesel no motor do caminhão, e o mais perigoso, duas vezes, a quebra do sistema de enganche entre a Wipala e nossa cozinha móbil, a Caracola.

Cada noite paramos nos postos de combustível, para maior segurança (as estradas do norte do Brasil são consideradas altamente perigosas por causa dos assaltos), por contar com banheiros e chuveiros, e nos estacionamentos dos caminhões, com espaços com teto para botar nossas barracas.

Viajando oito dias com 22 pessoas a bordo, cinco delas crianças entre um e 7 anos, tirando da Kombi com o caminhão para poupar combustível, e uma soa parada de um dia no caminho, não foi sempre fácil. Devido a isso, a providencial pausa em Teresina, convidados pelo Grande Pellé, responsável do Ponto de Cultura Trilhas de Teatro, num albergue com quartos e camas, água corrente, refeições e: UMA PISCINA, foi uma oferenda do Universo que precisávamos e agradecemos muito. Em troca desse convite a Caravana fiz uma apresentação na estação da Ferroviária onde o Ponto de Cultura tem a sua sede, com números de dança, conta-historias, mimo, malabares de fogo, abraçoterapia e cirandas do mundo.

Na manha do domingo 18, a Caravana fez seu ingresso no campus da Universidade Federal Rural de Amazônia, onde o Acampamento da Juventude será alojada pelos dias do Fórum Social Mundial. Foi um momento de grande alegria coletiva por ter chegado bem, sãos e salvos a nosso destino. A trezentos metros do portão, encontramos o sitio onde estamos neste momento construindo a Aldeia de Paz, e onde Thomas Enlazador e uma turma de 30 pessoas já estavam morando de uma a duas semanas.

Esse mesmo dia começo para a Caravana o seguinte capitulo de sua historia. A primeira participação tanto num Fórum Social Mundial como num encontro tão numeroso, já que as expectativas de participação variam entre 90 e 120.000 pessoas.

O Acampamento da Juventude esta-se preparando para receber aproximadamente 10.000 pessoas, e a Aldeia da Paz um máximo de 400 a 500 pessoas. A Aldeia será o único espaço de autogestão, com um refeitório solidário vegetariano, com banheiros ecológicos secos, um território livre de álcool, onde as decisões serão tomadas nas rodas pelos moradores, e com um desenho permacultural para definir os espaços dos bairros, os espaços comunais, as trilhas, os centros de reciclagem e as composteiras.

A Caravana já montou sua grande lona de circo, a lona do Arcoiris, onde serão programadas oficinas, apresentações, espetáculos, palestras, reuniões e conselhos de visões das diversas tribos que assistam ao Fórum. Junto à lona, nossos seis veículos estão já sendo utilizados para manter a Caracola, nossa cozinha alternativa, a Mazorca, nosso escritório com os computadores, os equipamentos eletrônicos, arquivos e, pela primeira vez na nossa historia, o Internet 24 horas ao dia. Em nosso caminhão Ganesha, mantemos uma área de ferramentas e para apoiar a produção, e nossa Kombi é até agora o único veiculo para deslocamentos da equipe de produção e relações publicas para a cidade. O trailer Águila contem o equipamento de acampado e para as oficinas, e o ônibus Wipala o alojamento de alguns de nos, especialmente aqueles cujas barracas ficam inundadas nas fortes chuvas tropicais da tarde e das noites.

Neste momento temos representantes de mais de 25 coletivos, nacionais e internacionais, de 15 paises do mundo, participando como voluntários nos diferentes Grupos de Trabalho que estão construindo todas as infra-estruturas necessárias para receber aos próximos grupos, caravanas, coletivos e indivíduos que chegaram a Aldeia da Paz nos próximos dias.

Estamos levantando o tipi da cura e primeiros auxílios, o espaço das abelhinhas (crianças), o refeitório, a centro de comunicações, audiovisuais e cultura digital, os chuveiros, as latrinas secas, o tipi da lua para as mulheres, as áreas para acampamentos, os centros de reciclagem e composta, a tenda da recepção, e colhendo lenha para a fogueira central, que será acesa no por do sol do dia 23, e permanecera sendo cuidada até o fechamento da Aldeia da Paz no mês de fevereiro, para as atividades ecumênicas das diversas tradições.

Temos equipes desenhando placas de sinalização, um mapa da Aldeia, preparando nossos alimentos, pegando água, mantendo relações com os organismos locais, nacionais e internacionais que coordenam o FSM, com os bombeiros, a policia militar, a policia ambiental, a imprensa, a segurança da Universidade, a reitoria da UFRA...

No resto do campus, as estruturas alugadas para os outros acampamentos ficam até hoje, vazias. Nenhum desses acampamentos tem até agora pessoal morando neles. Tem espaços confortáveis e modernos para refeitórios, chuveiros, fórums, encontros, e nos estamos construindo todo com bambu, terra, serragem, madeira reciclada, material pegado nos lixeiros da Universidade, lonas pretas, e poquisimas ferramentas proporcionadas pelos mesmos coletivos.

Conseguir todo isso não foi, nem é uma tarefa fácil. E o fruto de muitas articulações, pressão, trabalho, e da presença desta equipe heróica de voluntários que estamos praticamente ocupando um espaço, na área de agroecología, graças ao coletivo IARA, que nos foi negada e tivemos que lidar muito com outras entidades políticas, para poder montar nossa Aldeia da Paz. Construir “um outro mundo” não é uma tarefa simples.

Mais nessa estamos, e este é nosso primeiro comunicado para todo@s vocês que não conseguiram chegar a Belem. Esperamos poder representá-los bem, e levar nossas visões coletivas a este, o maior fórum social que acontece no planeta, neste momento histórico de mudanças, que propicia mudanças globais com o fim da Era de Bush e o inicio do que poderia ser um novo ciclo social e ambiental na Terra.

O Fórum Social Mundial será um termômetro para medir nossa capacidade organizativa, nossa articulação com outros movimentos, e para abrir ao mundo muitas janelas onde poder perceber como esse “outro mundo” pode ser manifestado.

Os nossos irm@os maias das florestas de Chiapas falaram que este já não somente era o tempo de sonhar, mais o tempo de acordar e começar a construir esses sonhos. Hoje, aqui na floresta Amazônica, estamos precisamente construindo nosso sonho: uma Eco aldeia cerimonial temporal, no coração do maior encontro de tribos de planeta.

Agradecemos a todas as forças do Universo por essa possibilidade, por este momento, por esta responsabilidade e por esta grande celebração pela vida.

Por todas as nossas relações

O¨MTA KU OYASIM