11 de agosto de 2008

TEMAZCAL em SÃO LOURENCO da MATA,



Pernambuco




Por o Coyote Alberto Ruz


O “temazcal”, temascalli”, entre os povos indígenas do México, e o “inipi”, entre os povos ameríndios das Américas do Norte, é uma construção tradicional feita com galhos flexíveis, adobe ou pedras, dependendo da região onde foi e continua sendo utilizado ate hoje, cujo propósito e de proporcionar um espaço circular, obscuro, seguro, intimo e sagrado, no qual nos poder purificar e entrar em contato profundo com os quatro elementos que fazem a base da existência: terra, água, ar e fogo.

Chamados também “saunas indígenas”, os temazcales ou inipis nos oferecem a oportunidade de participar de um ritual-cerimônia de curaçao e sanacao ancestral, que foi preservado por muitos séculos, mesmo nos tempos onde as diversos impérios coloniais e as igrejas tentaram de eliminá-lo. Isso foi possível graças aos guardiões desta tradição, que foram perseguidos e muitas vezes assasinados, acusados de praticar as artes demoníacas e pagas, como aconteceu (e continua acontecendo) com os xamás, pajés, bruxos, curandeiros, parteiras, homens a mulheres de conhecimento, em muitos lugares do mundo.

Afortunadamente, essas formas de praticar a medicina natural, e de nos devolver um necessário contato com a Mãe Natureza, começaram a ser aceitas com as mudanças sociais e culturais iniciadas na década dos anos sessenta, com as terapias transpessoais, a anti-antropologia, a contracultura e a revalorização das tradições dos povos indígenas do mundo. Paulatinamente esses conhecimentos foram repassados a pessoas-ponte, aprendizes, mesmo de outras culturas e origens, para conseguir preservá-los, e para contribuir a saúde física, mental, emocional e espiritual das pessoas do mundo ocidental.

Entre os anos 1976-1982, eu, Coyote Alberto, e os membros da minha antiga tribo itinerante, “Os Elefantes Iluminados,” moramos por quatro anos na costa oeste dos Estados Unidos, e convivemos com muitas nações e povos indígenas dessa região, onde apreendemos a valorar esses conhecimentos, a nos formar como aprendizes dos velhos guardiões, e a receber a sua “iniciação para poder levá-los a outras partes do mundo.

Meu principal mestre na ciência de construir e levar o “inipi” foi Melvim Chiloquim, da nação Klammath, herdeiro de varias tradições e linhagens dos povos lakota. Nesses anos, também participei de inipis com “corredores” dos povos cheroquei, apache, navajo, hopi, e mais tarde, já no México, com avos das tradições tolteca, nahuatl, maia e purepecha, entre outros. Minha formação já foi por isso com a inclusão das formas e dos desenhos dos povos do Norte e do Centro das Américas, muito mais ampla e menos ortodoxa. Alem disso contei sempre com as abençoas do irmão maior Melvim, que não sô me concedeu a permissão de realizar minhas próprias cerimônias, mais de introduzir nelas as mudanças que meu coração e visão me indicassem, respeitando sempre os aprendizados dos meus mestres e ancestrais. Isso aconteceu no ano 1981.

Hoje, 27 anos mais tarde, eu já levei o “temazcal” a muitos povos, rodas, comunidades, grupos, encontros e movimentos, em vários paises de Europa, nos Estados Unidos e México, e, junto com os membros da Caravana Arcoiris, a maior parte dos 16 paises visitados nestes 12 anos de peregrinarem.

As cerimônias de purificação que eu conduzo, não são do caminho vermelho, preto, branco nem amarelo, elas são arcoiris, porque essa e a nação a qual eu pertenço. Essa e minha visão e minha visão, minha bandeira e meu caminho. O desenho e aquele que me foi entregue pelo Melvim Chiloquim, mais em vez de fazer quatro mundos, que é a forma tradicional, eu sempre fiz cinco mundos. O quinto, pelo mundo que nos estamos já construindo com nossas ações, nossos pensamentos, orações e sentimentos. Não mais o mundo do futuro, mais o mundo presente que esta nascendo dos temazcales e das batalhas espirituais e sociais que estão acontecendo hoje, graças aos guerreiros de paz e as xamas ecumênicas que se estão formando nestas tradições, tanto as ancestrais como as emergentes.

No Brasil, a gente já fiz temazcales no Instituto de Permacultura e Ecovila da Pampa, (IPEP) em Bagé, Rio Grande do Sul; no encontro do Chamado do Beija Flor, na Chapada dos Veadeiros, Alto Paraíso, Goiás; no Farol do Cerrado, em Brasília; no Centro Renascer, perto de Belo Horizonte; na comunidade educativa Terra Mirim, perto de Salvador de Bahia; no Instituto de Permacultura e Ecovila da Mata Atlântica, (IPEMA) em Ubatuba, São Paulo; e agora, o mais recente, os dias 2 e 3 de agosto 2008, aqui no sitio do CEL, (Centro de Estudos e Lazer) em São Lourenço da Mata, Pernambuco.

Para aqueles que não tem nenhuma idéia do que um temazcal é, aqui estão algumas fotos do processo de construção, dos detalhes do amarrado dos galhos, da orientação da porta, do emplacamento da roda da fogueira e o caminho do fogo, (simbolizando o caminho de um dia de sol); do altar feito em forma de tartaruga (neste caso com os 20 selos do calendário maia), representando a “Ilha da Tartaruga” (nome do continente americano pelos povos indígenas do norte) e da meia lua que abraça todo o espaço cerimonial, para representar o nosso pequeno universo mais próximo de relações celestes: Pai Sol, Mãe Terra e avo Lua.

Na fogueira são purificadas as “abuelitas pedras,” sete para cada mundo, ate que elas alcançam o cor vermelho-branco provocado pelo intenso calor, e estão prontas para ser introduzidas no ventre do temazcalito, dentro de um buraco no centro, chamado o umbigo do “inipi”, onde serão batizadas pela água, no momento de dar inicio ao ritual.

O vapor produzido ao interior desse espaço reduzido, completamente fechado e coberto de lonas e cobertores, alcança temperaturas muito altas, que produzem os efeitos de purificação física, emocional, mental e espiritual das pessoas que estão participando. O suor purifica o corpo de toxinas, as lagrimas e secreções das narizes, o sistema linfático- respiratório; os cantos e as orações abrem o coração para deixar sair e nos liberam de emoções, medos, traumas, fobias, prejuízos, dores que ficaram atrapalhados no curso da vida, desde a gestação e o nascimento.

O contato com a terra, a lama, procurando por sua transpiração fresca, nos momentos de grande calor, nos libaram dos preconceitos aprendidos numa vida que nos afastam cada vez mais da nossa mãe original; e nesse momento surge a lembrança, agradecimento profundo e o arrependimento por todos os danos que lê causamos por nossa ignorância, prepotência e ambição, como indivíduos e como espécie.

A apertura ao fim de cada mundo, nos faz agradecer pelo ar que respiramos, por cada uma de nossas respirações, e quando finalmente saímos do ventre da mãe, pela vida que respira em cada uma de suas manifestações e formas de vida.

No interior do temazcal, reina a obscuridade total. Fora, a noite pode ser também obscura o somente iluminada pelas estrelas e a lua. A fogueira dura praticamente desde o por do sol ate o amanhecer. Os cantos, de todas as culturas e tradições, o bater dos tambores e as maracás, acompanham toda a cerimônia.

Ao sair do quinto mundo, uma vez tendo passado pelo mundo dos minerais, os vegetais, os animais, os seres humanos e o mundo dos espíritos e dos sonhos realizando-se, os participantes entramos nas águas frias de um rio, uma lagoa, uma piscina, o do mar, o no pior dos casos de uma ducha, para refrescar nossos corpos ardentes, para limparmos da lama e do suor, e para fechar nossos poros abertos pela ação do calor a traves das duras provas do passagem a traves dos cinco mundos, processo que pode durar mais de 5 horas.

O renascimento tem então lugar e o batismo pelas águas, nos faz tornar desse estado de grande alteração da nossas consciências, para um estado de infinito assombro e agradecimento pela vida. Ao entrar ao temazcal cada um se purifica com o copal, e procura re-conecta-se “com todas nossas relações”, significado da palavra lakota “Omta´Kuoyasim”, e ao momento de sair, no meio da note, com chuva, sem chuva, com estrelas o sem estrelas nem lua, as pessoas compreendem o significado profundo dessa palavra, que simboliza e sintetiza a enorme sabedoria desses povos que foram exterminados como “bárbaros” pela civilização e as religiões chegadas de ocidente.

“Todas nossas relações” são nossos parentes todos, desde os soles e os planetas mais longes, ate os mais minúsculos dos organismos que convivem conosco neste paraíso vivo que e a Mãe Terra. Nossos parentes são as montanhas, os desertos, os cristais, o ferro, o petróleo, mais também as florestas, as plantas de visão, o milho e as frutas e flores dos variados jardins deste planeta. São os animais que moram nas águas, baixo a superfície da terra, que voam, que raptam, que brincam nos arvores e que dormem nos invernos dentro das cavernas. Nossos parentes são os seres humanos de todas as culturas, de todos os origens, de todas as idades, crenças, jeitos e colores. Os de ontem, os de hoje, os de amanha. Aqueles que nos deixaram ensenhanzas profundas, obras de arte maravilhosas e pérolas de conhecimento, e aqueles que nos deixaram uma herança de crimes e genocídios inenarráveis.

As cerimônias de “temazcal” e o “inipi” são um conhecimento bastante delicado, perigoso quando ma utilizado, e a sua condução uma responsabilidade muito grande para os “corredores” que tem recebido o privilegio de a realizar. Uma sauna é uma sauna, e pode ser utilizada somente para a limpeza do corpo e o banho, como acontece em algumas culturas do mundo. Não devemos confundir uma sauna com um “temazcal”. Os propósitos e o desenho são bem diferentes.

Aproveitemos dos bons condutores que cruzam nossos caminhos para seguir aprendendo dessa tradição. E nos, da Caravana, continuaremos oferecendo- lá para aqueles que precisem para sua saúde, física e emocional, o que acreditem que pode lês ajudar em sua formação como aprendizes de curandeiros e xamas.

Para aqueles desta região Metropolitana de Recife em Pernambuco, a gente já tem um sitio com um temazcal e infra-estrutura pronta para a realizá-lo, no CEU de São Lourenço, mais estamos prontos a construir um outro si as condições são favoráveis e contamos com grupos que nos apojem na formação de grupos interessados nesta experiência sem igual.

Boas viagens e “OMta Kuoyasim” para tod@s

Para mais informações: 81-8641-6734