23 de agosto de 2008

Bicho do Mato

Atividades recentes da Caravana no Centro Ecopedagógico “Bicho do Mato”

Desde o mês de fevereiro a Caravana montou sua base aqui no “Bicho do Mato”, uma chácara de cinco hectares a 10 km de Recife, propriedade da família de Kalinne, companheira de Thomas Enlazador, dois antigos amigos e aliados da Caravana.

Os prédios da chácara tenham sido abandonados por muitos anos, e se encontravam em mas condições na maior parte. Thomas e Kalinne decidirem de morar lá, e de receber seu segundo filho na “terra prometida”: Amam. Seus projetos eram os de criar um “Centro Ecopedagógico” e começar a re-ocupar os espaços com a idéia de poder tornar a chácara em um modelo demonstrativo para grupos de jovens, crianças e estudantes interessados nas diversas áreas da ecologia e a recuperação dos ecossistemas.

Semanas depois do nascimento de Amam, a Caravana chegou à chácara, proveniente de Aracajú, para participar nos famosos carnavais tradicionais de Recife e Olinda, e para continuar com nosso trabalho com os Pontos de Cultura dessa região e do resto de Pernambuco. Thomas já tinha nos-convidado para passar um tempo nesta nova base, para de ai nos começar nossas articulações em troca de colaborar com ele e sua família na criação do futuro Centro.

Sem previsão do tempo que precisaríamos para ficar lá, nos começamos a visitar diversos pontos de cultura, e a apoiar as “férias mensais de Economia Solidária” que Thomas e Kalinne organizaram na chácara, que depois de um par de meses de nos estar convivendo lá, numa roda de propostas para encontrar um nome, ficou sendo batizada “Bicho do Mato.”

Com o passo das semanas, dos voluntários da caravana, que nesse momento aumentaram a perto de 20, começamos também a adequar os espaços para poder morar lá, já que a estação de chuvas estava cada vez mais perto.Os espaços destinados para a cozinha e refeitório precisavam refazer seu teto, completamente apodrecido, e numa semana de mutirões, ele foi completamente mudado-

O galpão onde as barracas foram montadas, devido às chuvas e a lama, também precisou ser reparado, já que a metade dele tinha sumido nos anos de abandono. Uma latrina seca, um chuveiro ao ar livre, uma estação de lavado de roupa e uma área de reciclagem foram as seguintes obras dos caravaneiros, com uma roda bananeira plantada na zona de filtragem de águas cinzas dos lavadeiros. Depois de vários intentos, também conseguimos resolver a reciclagem das águas cinzas da cozinha, com um pequeno horto para plantas medicinais e alimentícias. Um horto circular, com forma de yin-yang, foi também implementado nesses primeiros meses.

Com a presença da Caravana e a ótima articulação de Thomas na Universidade Federal de PE e com as instituições ambientais do estado, grupos de estudantes começaram a chegar, a imprensa, e até a TV-Globo, que fiz uma excelente matéria sobre a Caravana que passou varias vezes no Jornal nacional da Globo e nas estações do estado. As férias também atraíram cada vez mais pessoas que seja um sábado o um domingo, chegam passam a manha fazendo oficinas o curtindo, a meio dia faz um almoço comunal com a gente, e na tarde montam a feirinha, com seus objetos reciclados, livros, roupa, CD´s, DVD´s, instrumentos musicais, e seus artesanatos, alimentos e serviços vários. As atividades são acompanhadas de musica em vivo, rodas de danças do mundo, tambores, e dum fechamento ao por do sol em torno da fogueira.

A nossa estanca no “Bicho do Mato” tem já mais de seis meses, mais ate agora não conseguimos ter previsão da nossa seguinte etapa de viagem, devido aos problemas que estamos tendo com o processo de prestação de contas de nosso projeto Caravana Cultura Viva com o Ministério da Cultura, que tive seu grande final com a Aldeia de Paz que foi estabelecida na Praça do Carmo, em Olinda, os últimos dias de abril.

Devido a isso, mesmo si agora nosso grupo ficou muito reduzido, a menos de 10 pessoas na atualidade, a Caravana continua realizando atividades, tanto na área metropolitana de Recife como aqui no Bicho do Mato.

As mais recentes tiveram lugar à semana passada, na quinta feira 14 agosto, com a visita de um ônibus cheio de crianças e adolescentes do Ponto de Cultura Negras Raízes de Olinda, que acompanhados de seus monitores e da coordenadora do ponto, Luzia dos Prazeres, passaram uma tarde maravilhosa conhecendo nosso modo de vida itinerante, nossos ônibus, trailers, camião, e nossas rústicas instalações, já que essa organização tem um grande interesse em criar sua própria Caravana.

Os mais de setenta jovens visitantes foram divididos em grupos, e cada um deles aprendeu sobre as utilidades de nossos veículos e a historia de nosso grupo. Nos respondemos a suas inúmeras perguntas, e cantamos e dançamos com eles ao som do meu tambor xamánico e das maracás de Verônica.

No domingo 17, tivemos outra visita interessante, uma centena de ciclistas conduzidos por seu líder, um oficial da Policia Militar, que cada semana visitam algum sitio perto de Recife onde aconteçam algumas atividades diferentes, e que esta vez solicitaram de passar um par de horas com a Caravana e no Bicho do Mato, atraídos por uma matéria aparecida no maior jornal da cidade.

Os ciclistas, homens e mulheres de todas as idades, socialmente acomodados, que provavelmente nunca tenham convivido de perto com uma turma de loucos como nos, passaram um tempo muito divertido, aprendendo de nossas diferencias, dançando baixo a chuva, cantando hinos indígenas e orientais com a gente, o tomando um copo de água de coco, pão integral e bolo feitos em casa para a ocasião. Ficaram muito agradecidos, felizes, e alguns deles voltaram essa mesma tarde para participar na última feirinha da Economia Solidária, que tive lugar esse mesmo domingo.

Assim, em menos de uma semana, tivemos mais de duzentos visitantes, desde crianças, na maior parte afro-descendentes, até uma turma de classe meia alta, profissionais na maioria, e um grupo de umas quarenta pessoas da turma alternativa da cidade. Trocando idéias, serviços, visões, momentos de alegria e aprendizado na difícil arte de conviver em respeito pelas diferenças. E dessa maneira, até que as chuvas parem, as dificuldades burocráticas, internas, políticas deste momento, mudem para dar-nos a senha de partir, aqui ficaremos, realizando próximos projetos como a construção de um forno a lenha para pão, pizzas e bolos, que já esta bem encaminhado. Deixando traças bonitas a nosso passo. Ao menos tentando-o. Fiquem ligados para as próximas atividades e...si estão perto de aqui, participem... Ate a próxima!

O Subcoiote Alberto